Ele sempre teve vontade de fazer isso. Era o seu grande sonho. Mentira, sonho é uma palavra muito forte, era sua grande vontade apenas. Sempre que aconteceu isso, ele havia pensado em fazer, mas nunca teve disponibilidade. Estava suado, talvez por ter ido pra casa correndo, desde a casa de seus amigos. Talvez não, isso era a pura verdade.
Chegou em casa e a primeira coisa que falou foi "Dulu!". Sim, ele tava na sala. Correu para seu quarto, tirou seu tênis e ligou o computador.
Estava zangado. Ficou zangado o caminho inteiro. Seus amigos não, estavam felizes ou aparentavam estar.
-Vamos rolar no asfalto?
-Vamos pular no mato?
-Azarranzarran. Não, metira, eu tô puto.
Colocou uma música. Não sua playlist inteira. Não. Apenas uma música.
O ventilador estava ligado, estava com muito calor. Já disse que estava suado?
Procurou um "fandangos" em sua cama. Desistiu, não haveria de encontrar, embora tivesse certeza que ele estava lá.
Pensou qual era o motivo de estar nervoso. Havia feito uma aposta com seu amigo sobre algo que não lembrava ou não queria expor a vocês. Era certo que lembrava, havia combinado umas duas horas antes, no máximo. Como não haveria de lembrar?
Pensou que no outro dia quando acordasse, nem abriria seu blog, pois não lembraria se havia escrito algo ou não. Se achava medroso ou mentiroso por isso. Achava que estava acima de todos por esse motivo. Mentira, não era por esse motivo, era por outro. E daí se achou mais medroso e mentiroso. Como não havia conseguido fazer o que queria?
Tinha contado todo seu plano para outro amigo em outra oportunidade.
Voy a pedirte que no volvas más...
Seu amigo tinha gostado do plano, mas não sabia se conseguiria cumpri-lo. Nem eu tinha consegudido em algumas oportunidades. Era por isso que estava nervoso?
Se achava incompetente e impotente, embora tivesse conseguido tudo que queria até agora.
Para seu outro amigo havia contado a história sobre sua pulserinha da sorte, feita por ele mesmo. Desde que tinha colocado, tudo tinha dado certo. Preta com detalhes laranja, fabricada com peças da Argentina. Desde que havia colocado, tudo tinha dado certo, até hoje, que ele conseguiu decepcionar a si mesmo. Bezerro de ouro?
Haveria cumprido com o planejado. Não desse dia, mas em dias anteriores. O dia de hoje, para ele, pode-se dizer que foi decepcionante.
Pretenderia cumprir a aposta com seu amigo, mesmo ele não lembrando no outro dia. Disse pra si mesmo que no fim faria, mas não fez. Esse era o problema!
Realizei? Tá passando o efeito...
Desculpa! Para ele mesmo!
Sabe quando promete para si mesmo algo? É uma promessa diferente. Não tem ninguém para cobrá-lo a não ser ele mesmo. São minhas promessas preferidas. É você contra você mesmo. Ou a favor? Embora não cumprir algumas vezes, você sempre se cobra mais. Não havia prometido apenas com um amigo, e sim com ele mesmo.
Já eram duas promessas. Teria que cumprir pelo menos uma na outra oportunidade.
Dormiu... E lembrou no outro dia.
Dervixes, Gurdjieff e Tsabropoulos
Há 14 anos