Sentado sob a luz de sua lua artificial pensou na semana que havia passado. Que sentimento estranho que estava sentindo naquele momento. Por que ele era daquele jeito? Por que tentava tanto saber das coisas através de incertezas?
Na semana passada havia crescido uma Flor ao lado de sua janela. Não digo nascido porque embora ele nunca a tivesse percebido, ela o conhecia. Era uma Flor muito perfumada e amarela. Desde então, durante o dia inteiro, ele contava as horas para chegar em casa para olhá-la e apreciá-la. Na maioria das vezes ele até conversava com ela, e o tempo passava tão rápido que nem um dos dois percebia. E foi assim durante toda a semana, ele acordava cedinho, olhava pela janela e ia trabalhar. Saia de casa só em corpo, porque em espírito ele estava com a Flor.
Começou a conhecer mais sobre ela e a admirar mais. Mas como isso podia acontecer se ela tinha aparecido em sua vida há apenas uma semana? Ele não entendia, mas era assim que se sentia, embora não soubesse ao certo qual era esse sentimento. Talvez ele não quisesse saber qual era, pra evitar complicações.
Um dia pela manhã, durante seu ritual matinal, olhou pela janela e parecia que a Flor estava sorrindo pra ele. Não entendeu e ficou com medo. Fez cara feia e aparentou esquecer aquele sobrenatural sorriso, embora aquela linda cena não saísse de sua cabeça. Foi trabalhar e quando voltou, a Flor já não estava perfumada e amarela. Era uma rosa daninha agora. Como ficou triste, o coitado. Sentou ao seu lado e pediu desculpas, prometeu sorrir para ela todos os dias de sua vida e rezou para que ela o perdoasse. Dormiu ao seu lado.
Quando acordou, estava em volta de um roseiral muito lindo. Milhares de flores amarelas o abraçavam e entravam em seu quarto. Pensou em ser o homem mais feliz do mundo e entendeu o que estava sentindo anteriormente.
Não, não posso.
Dervixes, Gurdjieff e Tsabropoulos
Há 14 anos